C’est pas moi – Não Sou Eu C’est pas moi
Para uma exposição que acabou por não acontecer, o Museu Pompidou perguntou a Carax “Por onde anda?”. Neste filme-ensaio, o poeta, que sempre adjectivaram de “amaldiçoado”, fez volta e meia no passado (Denis Lavant, Modern Love...), parou no presente (Nastya Golubeva Carax) e pensou no futuro (Do cinema? Do mundo? All of the above), chegando a este filme que cheira a Godard e que, como toda a obra de Carax, respira a beleza dos quatro cantos da vida. Após 6 longas-metragens em 40 anos, Carax apresenta-nos esta média-metragem como une prière pour l’inespéré...
Lisboa - Medeia Cinema Nimas
20:00Porto - Cinema Trindade
18h30Lisboa - Medeia Cinema Nimas
18:00Porto - Cinema Trindade
18h30Lisboa - Medeia Cinema Nimas
22:00Porto - Cinema Trindade
21:00Porto - Medeia Teatro Campo Alegre
21:00Lisboa - Medeia Cinema Nimas
18:30Porto - Medeia Teatro Campo Alegre
21:00Lisboa - Medeia Cinema Nimas
19:00Porto - Cinema Trindade
18h30Lisboa - Medeia Cinema Nimas
19:00Porto - Cinema Trindade
18h30Lisboa - Medeia Cinema Nimas
20:30Porto - Cinema Trindade
18h30Festivais e prémios
LEFFEST – Lisboa Film Festival 2024 – Selecção Oficial – Fora de Competição
Festival de Cannes 2024 – Cannes Première
Crítica
«“O cineasta faz a sua introspecção num filme-montagem onde dá largas à sua imaginação sensorial.”»
Le Monde (Jacques Mandelbaum)
«“Mergulhamos de corpo e alma neste filme-mundo que tem tanto de comovente como de estimulante”.»
Ouest France (Thomas Baurez)
«“Dominado pelo fantasma do seu ídolo, Jean-Luc Godard, a média-metragem do cineasta é pontuada por imagens melancólicas, rostos familiares e excertos comoventes de filmes caseiros”.»
Libération (Laura Tuillier)
The Guardian
Cahiers du Cinéma
Première
Actores e ficha técnica
Denis Lavant, Kateryna Yuspina, Nastya Golubeva Carax, Loreta Juodkaite, Bianca Maddaluno, Anna-Isabel Siefken, Petr Anevskii
Argumento: Leos Carax
Fotografia: Caroline Champetier
Produção: Charles Gilibert
Distribuição: Leopardo Filmes
Biografia do realizador
Autor de sete longas-metragens, Leos Carax, nascido em França, em 1960, é um dos cineastas mais idolatrados por cinéfilos de todo o mundo. No final da década de 1970, com apenas 20 anos, Carax entra para a redação dos aclamados Cahiers du Cinéma, tendo como editor-chefe o memorável crítico de cinema francês, Serge Daney. A sua primeira crítica ao filme Paradise Alley (1978), filme de estreia enquanto realizador de Sylvester Stallone, revelou, desde logo, o excêntrico e exigente olhar de Carax, forjando na crítica de cinema uma certa teoria do que, mais tarde, viria a ser o seu cinema. À semelhança de Jean-Luc Godard, François Truffaut, entre outros da que ficou conhecida como a fase da capa amarela dos Cahiers, Carax afastou-se da crítica para dar os primeiros passos na realização. A sua primeira curta-metragem, Strangulation Blues (1979), foi galardoada com o Grand Prix du Courts Métrages no festival de Hyères, em 1981. Aos 24 anos, assinou Boy Meets Girl – Paixões Cruzadas (1984), que conquistou o Prémio da Juventude no Festival de Cannes, e dois anos depois filmou Mauvais Sang – Má Raça (1986), que venceu o Prémio Alfred Bauer no Festival de Berlim e o Prémio Louis Delluc. O realizador francês cria um universo cinematográfico único que torna a estreia de cada um dos seus filmes um verdadeiro acontecimento. Com o provocador e surrealista Holy Motors (2012) conquistou inúmeros prémios e foi seleccionado para a competição do Festival de Cannes. Em 2021, Annette, uma ópera-rock fantástica e alucinatória, foi o filme de abertura do Festival de Cannes de 2021, onde venceu o Prémio de Melhor Realização. O seu filme mais recente, C’est pas moi, foi estreado no Festival de Cannes de 2024 e será exibido em Portugal no LEFFEST, na sua terceira participação no festival.
Entrevista a Leos Carax por Henri Sanzot
Henri Sanzot: O que é que queria dizer com este p...
Leos Carax: Queria dizer o que é dito, cinematograficamente e em todos os sentidos.
HS: Mas...
LC: Sim, c’est pas moi – pas de moi, obviamente. É a resposta de Rimbaud à mãe, Vitalie, quando lhe perguntou sobre o significado de “Une saison en enfer”.
HS: Vê-se a si próprio como um p...
LC: É melhor isso do que ser sonso.
HS: Fazer o seu próprio auto-retrato, não é um pouco…
LC: Sem dúvida. Muitos pintores já o fizeram, claro. Eu experimentei o meu sem espelho. Um auto-retrato visto de costas. Ou, como naquele sonho que tive há anos: como é que me consigo ver neste espelho se tenho os olhos fechados? – e eu vejo perfeitamente, no espelho, que os meus olhos estão fechados.
HS: Neste filme, encontramos os...
LC: O mundo que encontrei quando nasci (a sombra negra de Hitler, as minhas irmãs e os meus pais, etc.). O mundo que descobri mais tarde: os amigos, os amores, os companheiros e companheiras de trabalho. A minha filha. Os meus cães. E todos aqueles que me convidaram à viagem. Pensadores, artistas, resistentes, que desde sempre abriram o caminho para que uma ilha se erguesse no meio do mar – nem sempre acolhedora, mas pelo menos sem funcionários aduaneiros ou regras irrisórias, onde o ar ainda é respirável, onde temos o direito de nos perdermos. Uma ilha do outro lado da vida, onde podemos ver o nosso mundo de um ângulo novo e inventado.
HS: Esta é a primeira vez que trabalha sem a sua montadora histó...
LC: É um filme que tive de montar e realizar sozinho. Um pequeno filme feito na cama e na mesa de montagem (mesmo que essas mesas já não existam). Um filme nascido do dia e da noite. Quando não conseguia dormir, vinham-me duas ou três imagens, correspondências, raccords, coisas sem nexo. E de manhã, na minha secretária, no software de montagem, tentava musicar tudo isso. Com imagens dos meus arquivos, ou imagens que encontrava na Web, que podia ou não substituir mais tarde por outras captadas com o meu telemóvel ou com uma equipa. À noite, gravava a minha voz no meu telemóvel.
HS: Denis Lavant é o seu d...
LC: O meu demónio? Suponho que sim. E talvez vice-versa, se lhe perguntar. Mas um bom demónio, o melhor dos demónios. Ele e eu fizemos um pacto. “Meu Deus! É longa a arte / E a nossa vida é curta!” Um pacto que umas vezes nos condenou, outras nos salvou.
HS: Nina Simone, Barbara, David Bo...
LC: Sim. O filme evoca estas vozes raras que nos acompanham desde a infância. É uma tentativa de lhes agradecer; graças a elas, nunca estaremos completamente sós.
HS: A certa altura, mostra uma série de fotografias de ditad...
LC: Esse capítulo era para se chamar “Os sacanas riem-se”. Putin, el-Assad, Netanyahu e os seus comparsas, todos estes “homens fortes”... As crianças do século XX pensavam que, depois de Hitler, Mao e Estaline, o mundo acordaria subitamente como um adulto. Mas é claro que não. É como uma franchise da Marvel cujo sucesso nunca falha. Há sempre 8 ou 10 indivíduos, um bilionésimo da população mundial, que causam toneladas de miséria. Zombando sobre os cadáveres.
HS: E cita o romance de Dost...
LC: Sim, os sacanas dizem-se muitas vezes “Humilhados & Ofendidos”. Os falsamente ofendidos apodrecem o nosso mundo. E todos eles afirmam: “Não sou eu, são eles”. A criança em nós não compreende: não bastariam 8 ou 10 balas bem colocadas?
HS: “Não sou eu”, é exactamente o que as crianças dizem quando as acu...
LC: Sim, a descoberta da mentira, o prazer das primeiras mentiras contadas na infância – por outras palavras, o prazer da ficção. “Cé pamoi”. Sem acusar ninguém (Pamoi não existe). A má-fé, o descaramento. Aquilo a que os judeus chamam chutzpah: sou a criança que mata os pais e depois pede a indulgência do júri como um pobre órfão.
HS: “AU REVOIR / Ô REGARD”. É esse o título que dá ao último capí...
LC: Sim, mas com um ponto de interrogação. Yasujiro Ozu costumava dizer que era preciso lavar os olhos entre cada olhar. Isso ainda é possível? Hoje em dia, as imagens bombardeiam-nos; são armas de guerra. Podemos lavar os olhos vezes sem conta, mas será que ainda podemos olhar as coisas, o mundo, as imagens, de frente?
HS: Normalmente, um cineasta n...
LC: “Normalmente” já não existe.
HS: Bem... acho que fizemos o t...
LC: Em grande parte. Obrigado pelas perguntas, Henri. Boa noite.