Esta Noite Nuit de Chien
Estação de Santamaria à noite. Ossorio, homem dos seus quarenta anos, sai de um comboio, por entre uma multidão de refugiados e de soldados derreados. É numa cidade sitiada que este herói de uma resistência em fuga tenta reencontrar os seus antigos aliados e aquela que ama. Mas a situação agora é outra, e os amigos de ontem já não têm o mesmo discurso. Enquanto uma milícia desenfreada aterroriza a cidade, cada um só quer é salvar a própria vida.
Festivais e prémios
- Festival de Veneza - Leão Especial do Júri
- Festival de Toronto - Masters
Actores e ficha técnica
Pascal Greggory - Ossorio
Bruno Todeschini - Morasan
Amira Casar - Irene
Eric Caravaca - Villar
Nathalie Delon - Risso
Marc Barbe - Vargas
Jean- Francois Stevenin - Martins
Bulle Ogier - D.Inês
Laura Martin - Victoria
Mostefa Djadjam - Granovsky
Lena Schwarz - Rosaria
João Baptista - Juan
Pascale Schiller - Agnes
Oleg Zhukov - Max
Filipe Duarte - Júlio
Sami Frey - Barcala
Elsa Zylberstein - Maria
um filme de Werner Schroeter
Adaptação, Argumento e Diálogos - Gilles Taurand e Werner Schroeter
Baseado no romance - «Para Esta Noche» de Juan Carlos Onetti
Direcção de Fotografia - Thomas Plenert (B.V.K.)
Guarda Roupa - Isabel Branco
Direcção de Arte - Alberte Barsacq
Música - Eberhard Kloke
Direcção de Produção - Ana Pinhão Moura
Assistente de Realização - José Maria Vaz da Silva
Som - Pierre Tucat
Montagem - Julia Gregory, Bilbo Calvez
Produtor - Paulo Branco e Frieder Schlaich
Produtor Executivo - Eileen Tasca
Produtor Associado - Eric Franck
com o apoio - Soficapital
em associação com - Cinemage 3 e Light Night
com a participação - CNC
Centre National de la Cinématographie
FFA German Federal Filmboard
MC/ICA Insitituto do Cinema Audiovisual e Multimedia
Ministere de la Culture et de la Communication
Medienboard Berlin-B
uma co-produção Alfama Films Production (Paris), Filmgalerie 451 (Berlim), Clap Filmes (Lisboa)
Produtora associada - Leopardo Filmes (Portugal)
Nota de intenções
Em toda a minha obra cinematográfica (e parcialmente também na minha obra teatral), procuro explorar as forças vitais do amor, da morte e da vida a través de fantasmagorias múltiplas ou sob a forma de utopias.
Ressenti nas obras de Juan Carlos Onetti ideias vividas bastante próximas das minhas, mas filtradas pelo conhecimento insuportável da guerra e o temperamento machista dos “SUL” argentinos. Põe a seguinte questão: O que é o homem? De onde lhe vem a energia, o sentido do destino e, sobretudo, antes de tudo, a SEHNSUCHT, essa inclinação ardente que mescla o deseja e a melancolia. O cinema visto por mim deve ser capaz de representar essas forças vitais de maneira original. Têm afinal demasiado poucas ocasiões de serem exprimidas. A comunicação electrónica participa numa forma de diminuição do ser; trata-se de uma verdadeira destruição. Quanto às ficções televisivas, são geralmente de uma impressionante banalidade. Vemos recorrentemente thrillers (suspense, acção) ou melodramas (emoção), em esquemas pobres e redutores.
Como podem essas ficções alimentar os nossos imaginários, permitir-nos tecer utopias complexas que possam explorar a riqueza da nossa interioridade, a essência da nossa natureza?
Onetti, com a sua clarividência de artista e de observador sensível, consegue dar-nos a ver uma forma de complexidade. De uma forma muito pessoal, prefigura o Existancialismo de um Camus ou de um Sartre, ou mais tarde de Althusser, Foucault. Tive numerosos intercâmbios com este último sobre o tema da Paixão, que mantém o homem em movimento, mesmo que não seja totalmente ele-próprio quando nesse estado. Foucault interrogou-se também muito acerca das ligações entre sexualidade e política.
O nosso argumento NUIT DE CHIEN (Esta Noite) retoma a estrutura dramática da obra de Onetti. Nele como em nós, a o homem e a guerra, um estado de sítio que nos aproxima sensivelmente do “Voyage au bout de la nuit” (“Viagem ao fundo da noite”) de Céline. O homem ferido tem sempre a possibilidade de resistir à violência, à brutalidade, à bestialidade. Cede demasiadas vezes. E quem cede a essa violência perdeu a esperança utópica, única que permite ao Homem conservar as forças da Vida, Amor, Paixão e de aceitar dignamente a morte.
A atmosfera densa de “Santa Maria”, que iremos criar no Porto, pode lembrar duas obras primas cinematográficas cujos ambientes gosto muito: “Touch of Evil” de Orson Welles e “Kiss Me Deadly” de Aldrich.
E é preciso não esquecer o toque de humor, um humor argentino-uruguaio ligeiramente presente em Onetti, e que merece ser devolvido ao ecrã.
Um sorriso na batalha contra o desastre!
Janeiro 2008
Werner Schroeter