Pode alguém ser quem não é? Tralala é um músico de rua e vive num edifício abandonado em Paris. Uma aparição, uma rapariga etérea vestida de azul, que surge de súbito e depois se evapora, vai mudar a sua vida. E Tralala (bravo!, Mathieu Amalric) parte para Lourdes, cidade de milagres, terra natal dos realizadores, os irmãos Larrieu, com a frase que ela lhe dissera a ecoar-lhe na cabeça: “E sobretudo, não sejas tu mesmo”. Ali chegado, uma família (a mãe, o irmão, namoradas antigas…) vê nele o filho pródigo, um músico desaparecido há vinte anos. Para felicidade de todos, Tralala torna-se Pat(rick).

Tralala, sétima longa-metragem dos Larrieu, com um dos percursos mais originais no cinema francês, é uma comédia musical, matizada e cheia de graça (a Lourdes dos Larrieu a fazer-nos lembrar a Rochefort de Demy). Filme de “máscaras”, onde a personagem central se reinventa nesta espécie de “teatro/jogo” (chapeau ao elenco maravilha, com os melhores actores e actrizes franceses), com uma banda sonora longe das orquestrações das tradicionais comédias musicais. Aqui, as personagens cantam com o filme a respeitar a singularidade de cada voz. Um milagre do cinema, de onde saímos encantados.