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NOW — JÁ!, de Jim Rakete | Sessão especial Dia Mundial da Terra

Para assinalar o Dia Mundial da Terra, dia 22 de Abril o Cinema Nimas prepara uma sessão especial do filme NOW — JÁ!, de Jim Rakete. À projecção do filmes seguir-se-á um debate com Joacine Katar Moreira, deputada e activista (integra o Grupo de Trabalho - Lei de Bases do Clima na AR); João Camargo, investigador em alterações climáticas e activista da Climáximo e Matilde Alvim, Greve Climática Estudantil.


– What do we want?
–  Climate justice!
– When do we want it?
– Now!


Manifestantes das lutas contra as alterações climáticas no filme Now, de Jim Rakete 


No seu livro mais recente, O Tempo Indomado (Relógio d’Água, 2020), o filósofo José Gil dedica um extenso texto àquele que é certamente o problema mais premente com que a humanidade se debate hoje: o das alterações climáticas. O texto, “Catástrofe e revolução”, começa assim: “Com a explosão da crise climática a aproximar-se, urge responder a uma pergunta: em situação de emergência, o que é que nos pode levar a agir colectivamente contra as alterações climáticas? Questão duplamente premente, porque o sentimento de impotência afecta muitas vezes indivíduos e grupos, e porque sabemos que há cada vez menos tempo para actuar com eficácia.” E mais à frente: “Será que ainda vamos a tempo?”


Já há muito que os cientistas nos vêm alertando para os perigos das alterações climáticas e para o aquecimento global. Conhecemos as suas consequências porque assistimos já quase diariamente a fenómenos meteorológicos extremos (chuvas torrenciais que provocam cheias arrasadoras, longos períodos ou picos de extremo calor que dão origem a incêndios devastadores, alterações súbitas de temperatura que geram catástrofes várias, etc, etc), à extinção de espécies, à subida do nível dos oceanos e ao aumento gradual da temperatura da terra. O cenário é alarmante, e o mundo está à beira de um cataclismo ambiental. Sabemos também que a causa principal para que isto esteja a acontecer é a actividade desregulada do ser humano – a desflorestação crescente, a poluição em larga escala, as monoculturas intensivas, uma acelerada diminuição da biodiversidade, entre outros factores ¬–, a ideia de crescimento constante, que tem vindo a dizimar os recursos do planeta. Navegámos tranquilamente as águas desta catástrofe iminente, como se o perigo estivesse muito longe de nós, conhecendo embora os seus contornos. Tomaram-se por vezes medidas “cosméticas”, que apenas vieram adiar aquilo que se torna necessário (e voltamos a José Gil): agir “radicalmente, revolucionando as práticas e as visões que levaram o planeta à beira do abismo”.


Em 2019, a consciencialização ambiental veio alterar-se radicalmente, quando o exemplo da jovem sueca Greta Thunberg, impulsionadora do movimento Fridays for Future, das Greves Climáticas Estudantis, contagiava os jovens adolescentes um pouco por toda a parte. O que começou por ser um protesto solitário de uma rapariga de 15 anos à frente do Parlamento sueco em 2018 cresceu exponencialmente no ano seguinte, juntando milhões de jovens no mundo inteiro com um só objectivo: lutar pelo seu futuro e pelo seu direito a um planeta saudável. 


NOW — JÁ! parte precisamente destes movimentos para afirmar aquilo que andamos a adiar há demasiado tempo: é agora que temos de agir, pelo nosso planeta e pelo futuro das próximas gerações. O realizador e fotógrafo Jim Rakete entrevista e filma vários activistas, procurando registar o que os motiva, quais as suas visões e que caminho estão a tomar na luta pelo resgate do seu futuro. Greta Thunberg e Luisa Neubauer (Fridays for Future), Felix Finkbeiner (Plant for the Planet), Vic Barrett (Youth vs. Gov), Marcella Hansch (Pacific Garbage Screening), Nike Mahlhaus (Ende Gelände) e Zion Lights (Extinction Rebellion) são alguns dos jovens que desafiam o status quo, lutando por mudanças sociais e políticas, de forma furiosa e incansável (“Juntos e unidos, somos imparáveis”, diz, a certa altura, Greta Thunberg), através de manifestações, da desobediência civil, das greves estudantis ou da promoção de novas ideias e formas de combater o aquecimento global. Fortemente sustentados pela ciência e com um conhecimento aprofundado das causas e consequências desta crise climática, propõem novas formas de neutralização dos plásticos nos oceanos, a plantação de árvores em larga escala, de forma a combater a desflorestação e reequilibrar os níveis de CO2 no planeta, e enfrentam corajosamente os agentes políticos responsáveis pelo seu desespero. Greta Thunberg, na Cimeira do Clima das Nações Unidas (Nova Iorque, 2019), disse, naquele que foi um discurso arrebatado e de grande impacto: “Como se atrevem! Vocês roubaram os meus sonhos e a minha infância com as vossas palavras vazias”, pressionando os adultos para que passassem à acção e ouvissem os cientistas, em vez de responderem apenas às pressões económicas do momento.


A luta pela justiça climática foi tomada em mãos por esta geração, naquele que é um apelo urgente. “Não há um planeta B”; “é preciso agir já”, vemos e ouvimos no filme. Apesar do desespero, a mensagem é, no entanto, de esperança: que finalmente se tomem medidas radicais e efectivas na proteção do ambiente. “Se vocês falharem, nunca vos perdoaremos!”. A janela de tempo é cada vez menor, mas ainda é possível. O desespero destes apelos junta-se a uma enorme esperança na mudança, apoiada por cientistas, activistas com largos anos de experiência e figuras como a cantora e poeta Patti Smith (também ela activista no movimento Pathway to Paris, em defesa dos Acordos de Paris), o cineasta Wim Wenders, ou o Nobel da Paz Muhammad Yunus, fundador do Gramen Bank, que reflectem sobre o nosso papel na sociedade nos tempos que correm. Ou ainda o secretário-geral da ONU, António Guterres, que discursa na Cimeira do Clima, ou a democrata Alexandria Ocasio-Cortez, que afirma num encontro em defesa de um New Green Deal, “We are in this together”.


NOW — JÁ! é um filme que promove o debate pelo exemplo, juntando estes testemunhos para que a geração de hoje tenha um futuro amanhã. É, por isso, um filme urgente e necessário, não apenas pelo seu objecto mas pelo seu potencial efeito na procura de uma justiça climática que nos permita ter um futuro possível e sustentável neste planeta que habitamos. “Não se trata de uma simples esperança, germinando na psicologia individual, mas de uma realidade, já embrionária, que se pode observar em inúmeras lutas ambientalistas. […] Porque a morte do planeta significa a nossa própria morte, porque o desejo de (sobre)viver é mais forte, rompemos os hábitos mortíferos, mudamos de mentalidade, paramos de agredir a Terra” (José Gil, ib.)


No dia 22 de Abril, Dia Mundial da Terra, já com as salas de cinema abertas, organizaremos uma sessão especial do filme NOW — JÁ!, de Jim Rakete, ainda não estreado em Portugal (o filme teve uma sessão de antestreia na última edição do LEFFEST). A projecção será seguida de um debate, no qual participarão a deputada e activista Joacine Katar Moreira, que integra o Grupo de Trabalho - Lei de Bases do Clima na AR, o investigador em alterações climáticas e activista da Climáximo João Camargo, e Matilde Alvim, uma das impulsionadoras das Greves Climáticas Estudantis, que participou na recepção a Greta Thunberg na sua passagem por Lisboa onde veio receber o prémio Gulbenkian para a Humanidade. Porque, e rematamos ainda com José Gil, é disso que, no fundo, se trata, de criar um “laço comunitário mais forte que passa pelo investimento de todos na Terra”, esse “imenso corpo ferido” que é preciso “curar”, juntando o trabalho da ciência (“ouçam os cientistas”, não se cansa de dizer Greta, não se cansam de dizer estes jovens em luta) “ao processo de cura de um planeta doente para construir uma Terra que amamos, porque lhe pertencemos. E, por isso, agimos.”


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