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Peter Handke — O Prémio Nobel e o Cinema

A Medeia Filmes preparou um programa à volta de Peter Handke e o cinema, que terá lugar no Espaço Nimas em Lisboa, entre os dias 1 e 9 de Novembro.


O cinema deve muito ao mais recente Prémio Nobel da Literatura, também cineasta e argumentista, que ao longo dos anos construiu com Wim Wenders uma criativa relação de trabalho, que resultou em vários dos melhores filmes do realizador alemão. Essa colaboração começou com A Angústia do Guarda-Redes no Momento do Penalty (Die Angst Des Tormanns Beim Elfmeter,1972). Afirma Wenders: «A minha amizade com Peter Handke marca a origem do filme. Eu já conhecia o romance antes da sua publicação e tinha-lhe dito: “Tive, durante a leitura, a impressão de ver um filme, o livro é como a descrição de um filme”. Ele respondeu-me em tom de brincadeira: “Pois, então só tens que o fazer!” Até aí, eu nunca tinha escrito um argumento, nem sequer tinha visto ainda que aspecto tinha tal coisa. Peguei no livro e dividi-o em cenas; não havia muito a fazer, pois já estava estruturado como um filme. Cada frase resultava num plano, era muito simples.» Seguir-se-iam Movimento em Falso (Falsche Bewegung, 1975, adaptação da obra de Goethe, “Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister”), o icónico As Asas do Desejo (Der Himmel Über Berlin, 1987), e Os Belos Dias de Aranjuez (2016), produzido por Paulo Branco, uma oferenda de Handke a Wenders, que escreveu a sua primeira peça directamente em francês para que Wenders fizesse um filme a partir dela. Com as interpretações de Sophie Semin e Reda Kateb, e a participação especial de Nick Cave (que já surgira em As Asas do Desejo), Os Belos Dias de Aranjuez, como referiu a Transfuge Magazine, «tem a perfeição de um dia de Verão».


Brigitte Desbrière-Nicolas, no livro Peter Handke, La Femme gauchère : du récit aux images, cita Georges Perec que descrevia os escritores da geração de Handke nestes termos: “Pertencem, devido à sua idade e à sua formação, a uma primeira geração para a qual o cinema era, mais do que uma arte, uma evidência… eram cinéfilos. Era a sua primeira paixão. Juntavam-se para discutir cinema (quase) todas as noites. (…) Peter Handke passou, de forma imperceptível, de “escritor sob a influência” e crítico a realizador. O próprio explica que esta transição para a prática da linguagem fílmica se deve não a uma procura constante de novos modos de escrever, mas mais a uma necessidade interior.” Continuando a citar Desbrière-Nicolas, “A Mulher Canhota foi concebido originalmente como um guião, depois posto em prosa [o livro, apesar de ter sido publicado de forma quase confidencial foi um enorme sucesso de vendas] e finalmente em imagens, graças ao encorajamento de Wim Wenders (e ao trabalho notável do director de fotografia Robby Müller)”. A estreia mundial teve lugar no festival de Cannes, na Selecção Oficial em Competição. O filme, que veremos numa extraordinária cópia digital restaurada, é uma história de emancipação feminina, e conta com os desempenhos notáveis da grande actriz Edith Clever, como protagonista, e ainda de Bruno Ganz, Michael Lonsdale, Angela Winkler e Bernhard Minetti.


Alguns anos mais tarde, Peter Handke voltaria a trabalhar atrás das câmaras, num filme produzido por Paulo Branco, que veremos em cópia 35mm: L’Absence / A Ausência (1993), com Bruno Ganz, Sophie Semin e Jeanne Moreau. Sobre este filme disse o próprio realizador: “Talvez este filme seja um remake. Mas um remake de quê? A Aventura? Viagem a Tóquio? A Via Láctea? The Lady Vanishes? E talvez esta história nunca tenha sido contada. Talvez L’Absence seja uma história completamente nova. Uma história de hoje para amanhã. Em todo o caso, senti-me obrigado a contá-la. E contá-la sob a forma de um filme.”


Filmes a exibir no Espaço Nimas:


1 Novembro / 13h

A ANGÚSTIA DO GUARDA-REDES NO MOMENTO DO PENALTY, de Wim Wenders, com argumento de Peter Handke e Wim Wenders (1972)
Festival de Veneza 1972 – Prémio FIPRESCI
Cópia digital restaurada


2 Novembro / 13h

OS BELOS DIAS DE ARANJUEZ, de Wim Wenders, a partir do livro homónimo de Peter Handke (2016)
Festival de Veneza – Em Competição
Festival de Toronto – Selecção Oficial


4 Novembro / 13h30

MOVIMENTO EM FALSO, de Wim Wenders, com argumento de Peter Handke e Wim Wenders (1975)
Festival de Cinema de Locarno
Cópia digital restaurada


4 Novembro / 21h

A MULHER CANHOTA, de Peter Handke (1978)
Festival de Cannes – Selecção Oficial, em Competição
Sessão seguida de conversa
Cópia digital restaurada


6 Novembro / 13h30

A AUSÊNCIA, de Peter Handke (1992)
Cópia 35mm


9 Novembro / 19h

AS ASAS DO DESEJO, de Wim Wenders, com argumento de Peter Handke e Wim Wenders (1987)
Festival de Cannes – Prémio de Melhor Realizador
Cópia digital restaurada


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