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A Uma Hora Incerta A Uma Hora Incerta

Um filme de Carlos Saboga com Joana Ribeiro, Paulo Pires, Judith Davis, Grégorie Leprince-Ringuet

1942. No Portugal salazarista, dois refugiados franceses, Boris e Laura, são presos. O inspector Vargas, sentindo-se atraído pela jovem mulher, decide escondê-los em sua casa: um hotel vazio onde vive com a filha, Ilda, e a mulher, gravemente doente. Ilda descobre a presença dos refugiados e, consumida pelo ciúme, tenta fazê-los desaparecer a todo o custo...


Folha de Sala

2015 | Portugal | M/12 | 1H15min | Drama, Época | Longa-metragem

Festivais e prémios

Viennale - Festival de Cinema de Viena

Selecção oficial

Actores e ficha técnica

Com

Joana Ribeiro
Paulo Pires
Judith Davis
Grégorie Leprince-Ringuet
Filipa Areosa
Pedro Lima
Joana de Verona
João Paulo Santos (Kid)
Filipe Crawford
Ana Padrão


Argumento e Realização - Carlos Saboga
Director de Fotografia - Mário Barroso
Direcção de Arte - Zé Branco
Música - Alain Jomy
Assistente de Realização - José Maria Vaz da Silva
Montagem - Monique Dartonne
Produtor - Paulo Branco
Produção - Leopardo Filmes
com o apoio - Câmara Municipal da Mealhada, RTP e ICA

Biografia do realizador

Nascido em Portugal em 1936, Carlos Saboga foge clandestinamente à ditadura de Salazar nos anos 60, primeiro para França, seguindo depois para a Itália, antes de se ter, finalmente, naturalizado francês. É conhecido sobretudo pelo seu trabalho de argumentista e tradutor mas foi também jornalista e assistente de realização.


Desde o início dos anos 70 que o trabalho de Carlos Saboga é aclamado pela crítica internacional. Recebe em 1984 o Prémio FPCC do melhor argumento para O LUGAR DO MORTO, realizado por António-Pedro Vasconcelos. Colabora novamente com Vasconcelos em 1999, em JAIME, que vence o Prémio Especial do Júri no Festival de San Sebastian e o Prémio “Cannes Junior” no Festival de Cannes. A mini série LES FILLES DU MAÎTRE DE CHAI, realizada por François Luciani em 1997, recebeu o Grand Prix du Sénat para melhor série francesa e 7 nomeações para os “7 d’Or”. Escreveu o argumento dos filmes de Mário Barroso, O MILAGRE SEGUNDO SALOMÉ, em 2004, e UM AMOR DE PERDIÇÃO, em 2007, selecionados para alguns dos maiores festivais (San Sebastian, Buenos Aires…).


Carlos Saboga é também o argumentista de MISTÉRIOS DE LISBOA, derradeiro filme de Raúl Ruiz. Este fresco de cerca de 4h30, elogiado pela crítica e pelo público, foi seleccionado para vários festivais (Toronto, Nova Iorque, San Sebastian, São Paulo, Hong-Kong, Buenos Aires) e recebeu prestigiosos prémios, entre outros o Prémio Louis-Delluc em 2010, o Prémio de Melhor Realização em San Sebastian e o Prémio da Crítica em São Paulo. Esta adaptação do romance português de Camilo Castelo Branco, Os Mistérios de Lisboa (que também traduziu para o francês) afirmou Carlos Saboga como um dos grandes argumentistas europeus. Continuaria depois a colaborar com Ruiz, para o qual escreveu um novo fresco histórico, AS LINHAS DE WELLINGTON, que acabaria por ser realizado por Valeria Sarmiento, após o falecimento de Ruiz.


Em 2012, aos 76 anos, Carlos Saboga realiza a sua primeira longa-metragem PHOTO, apresentada no mesmo ano na selecção oficial em competição no Festival de Roma, e estreada em sala em França e em Portugal.


Chega-nos agora o seu novo filme, que escreveu e realizou, A UMA HORA INCERTA, sobre dois refugiados franceses de passagem por Lisboa durante a segunda Grande Guerra, seleccionado para a Viennale (Viena International Film Festival) 2015.


FILMOGRAFIA


Realizador:
“A uma Hora Incerta” – 2015
“Photo” – 2012


Argumentista:
“A uma Hora Incerta” de Carlos Saboga – 2015
“Photo” de Carlos Saboga – 2012
“Linhas de Wellington” de Valeria Sarmiento – 2012
“Mistérios de Lisboa” de Raúl Ruiz – 2010
“Um Amor de Perdição” de Mário Barroso – 2007
“O Milagre Segundo Salomé” de Mário Barroso – 2004
“Jaime” de António-Pedro Vasconcelos – 1999
“Les filles du maître de chai” de François Luciani – 1997
“Le trajet de la foudre” de Jacques Bourton – 1994
“Le fils d'un autre” de Michel Lang – 1992
“Un ballon dans la tête” de Michaëla Watteaux – 1992
“Adeus Princesa” de Jorge Paixão da Costa – 1992
“Aqui D'El Rei!” de António-Pedro Vasconcelos – 1992
“Retrato de Família” de Luís Galvão Teles – 1991
“Matar Saudades” de Fernando Lopes – 1988
“O Lugar do Morto” de António-Pedro Vasconcelos – 1984

Nota de intenções

A intenção primeira, e determinante, é propor uma imagem de um período da História de Portugal, durante o qual o país, submetido a uma ditadura impiedosa, foi ao mesmo tempo, de certa forma e paradoxalmente, um oásis de paz num mundo em guerra, um refúgio para milhares de pessoas que, sem ele, teriam perdido a vida.


Praticamente toda a acção se desenrola no recinto fechado de um hotel, num huis-clos semelhante à situação do país durante a ditadura, isolado do resto do mundo e da história que aí se faz.


Um décor único, portanto, crepuscular, feito de longos corredores sombrios, portas fechadas, salas mergulhadas numa penumbra povoada pelos lívidos fantasmas dos móveis protegidos por lençóis.


As tiras de papel que, na época, quadrilhavam os vidros das janelas, para prevenir os estilhaços de hipotéticos bombardeamentos, filtrando a luz exterior, concorrem para criar uma atmosfera opressiva de aquário, reforçada pelas fotografias de água (mar, rios, lagos, cascatas) que decoram obsessivamente as paredes do hotel.


No interior, as personagens parecem derivar entre duas águas, ao sabor de desejos exacerbados pela clausura.

Uma imagem em claro-escuro de um mundo a que só os ruídos exteriores fazem chegar ecos esporádicos da vida urbana e, através do rádio e dos farrapos da banda sonora das actualidades do cinema vizinho, o estrépito abafado da guerra que continua lá fora.


Carlos Saboga

Entrevista a Carlos Saboga

P.: No seu filme anterior, Photo, em que fala dos anos 1960/70, vistos a partir de hoje, havia, digamos, um acerto de contas com a História recente de Portugal, em particular a última década da ditadura fascista, que poderíamos também ler como o seu acerto de contas com essa história. Agora, em A Uma Hora Incerta, vai lá mais atrás, ao Portugal salazarista de 1942, no período da Segunda Grande Guerra, num filme de época. Parafraseando Alexandre O'Neill, Portugal é uma questão que tem consigo mesmo?

CS. : Em todo o caso, para continuar a parafrasear O'Neill, não é o "meu remorso". De facto, se os dois filmes que realizei decorrem ambos em Portugal, parece-me que, no fundo, tanto um como o outro questionam mais a época do que o país. Se alguma questão tenho ainda com Portugal não é certamente em termos identitários ou de acerto de contas. Terá sido. Mas após todos estes anos de separação, Portugal é, para mim, sobretudo uma língua e uma memória. Devo acrescentar que não sou do Benfica nem o fado é, de todas as músicas, a minha preferida.


P.: A questão do exílio forçado, aqui através de dois refugiados de guerra franceses, volta a estar presente, agora de forma distinta.
CS.: Talvez, sei lá, porque o exílio, forçado ou escolhido, é um ponto de partida dramaticamente interessante que permite ao autor um olhar, digamos, mais distanciado sobre as duas margens, a que se deixou e aquela a que se abordou. Mas suponho que a autobiografia não deva ser totalmente alheia a esta atracção pelos exilados com o vago perfume de deserção, de traição até... mais o consequente sentimento de culpa que os rói...


P.: Naquele "mundo fechado", onde todos parecem esconder um segredo, o inspector Vargas acaba por ter um comportamento diferente do que seria de esperar de um inspector-chefe da PIDE, ao contrário de Jasmim, o seu subalterno. Isso deve-se ao facto de ter saído do país, para combater na Flandres na Primeira Grande Guerra? A “outra guerra”, como Laura lhe chama, ao que ele responde, que há só uma guerra, contínua, e que não há nenhum sítio seguro.
CS.: Acho que Vargas é, depois dos dois franceses, o terceiro exilado do filme, latente, mas radical, porque não acredita sequer que haja um porto de abrigo possível. É um morto em suspenso. Um "estrangeiro". A experiência da Flandres, o sopro da morte no campo de batalha, parecem tê-lo convencido de que a guerra é a inelutável condição dos homens. É o que o leva provavelmente a fechar-se aos outros. E aos sentimentos.


P.: Ilda, a filha adolescente, tem uma enorme vontade de viver, sempre atenta aos ruídos e aos sinais que vêm do exterior. Simultaneamente, sente uma enorme paixão pelo pai, também física, incestuosa, que ela própria revela quando fantasia ao ler o episódio das filhas de Lot do Velho Testamento.
CS.: Ilda é o oposto de Vargas. É a sua vitalidade, a sua sede de reconhecimento por parte do pai que fazem avançar a acção. Nem a traição, nem o crime a farão recuar.


P.: O título do filme, A Uma Hora Incerta, vai, de algum modo, no sentido de que o acaso acaba por ter muitas vezes um papel decisivo na vida de cada um. E que as vidas se resolvem nesses lugares de "passagem, ou a meio caminho" como foi Portugal para os refugiados de guerra naquele tempo, como é a passagem do hotel para o anexo, onde o filme se resolve.
CS.: Porque não?

Na realidade, o título roubei-o a um poema de Primo Levi, Ad ora incerta, roubado por sua vez ao provérbio latim Mors certa, hora incerta.


P.: Tem uma longa e premiada obra como argumentista, e trabalhou com grandes realizadores. Disse numa entrevista que muitas vezes os argumentistas se sentem, de certa forma, frustrados porque o resultado nunca é como tinham idealizado no papel. No decorrer da rodagem e montagem deste filme o Carlos Saboga realizador alterou muito o que o Carlos Saboga argumentista tinha escrito?
CS.: A letra foi relativamente alterada (a carne é fraca).... O espírito manteve-se inalterado.
Devo acrescentar que, mesmo antes de ter realizado o meu primeiro filme, sempre considerei que os realizadores tinham todo o direito de chamar a si o que eu havia escrito. É a regra do jogo. Em contrapartida, parece-me menos legítima a ignorância geral com que a crítica contempla habitualmente o trabalho do argumentista.



P.: Volta a trabalhar com Mário Barroso, que também já fizera a fotografia de Photo, e com o qual trabalhou como argumentista nas duas longas que Barroso realizou, Um Amor de Perdição, adaptação contemporânea da obra de Camilo, e O Milagre Segundo Salomé, adaptação do romance de José Rodrigues Miguéis, sobre o Portugal da primeira república. A fotografia é extremamente importante na criação desta atmosfera opressiva que o país vivia.
CS.: Trabalho com o Mário Barroso desde o fim dos anos 70, se contarmos as curtas metragens meio realizadas e os projectos frustrados. O seu papel nos dois filmes que realizei foi essencial.

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