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​Tributo a WERNER SCHROETER: O Cinema Ilimitável

Há 10 anos, em Abril de 2010 (era também o mês do seu nascimento), deixava-nos um dos maiores vultos do cinema da segunda metade do século XX e inícios do século XXI: o cineasta alemão WERNER SCHROETER (1945-2010).


Nasceu para o cinema em finais da década de sessenta, com o Novo Cinema Alemão, do qual foi uma das figuras seminais, e Rainer Werner Fassbinder, que com Wim Wenders, Werner Herzog, Volker Schlöndorf, Alexander Kluge e Schroeter deram nesses anos nova vida ao cinema na Alemanha, dizia que ele era o melhor, entre todos.


“ Werner Schroeter foi durante mais de dez anos — muito tempo pois, demasiado tempo — o realizador mais importante, mais apaixonante e o mais decisivo de um cinema alternativo, de um cinema, que, em geral, se designa por underground, o que o reduz, o minimiza e acaba por abafá-lo. […] De facto não há senão filmes num conjunto cinzento. E há também os que fazem filmes. E, se os homens e os seus filmes são diferentes uns dos outros, a necessidade sentida de fazer filmes varia também naturalmente. […] Werner Schroeter, que um dia terá o seu lugar na história do cinema (em literatura, eu considerá-lo-ia entre Novalis, Lautréamont e Louis-Ferdinand Céline) foi pois um cineasta underground durante dez anos e não se quis possibilitar-lhe escapar a esse papel. […] atitude tão fácil quanto estúpida, porque os filmes de Schroeter estão próximos de nós; é verdade que são belos, mas não exóticos, pelo contrário.” — escreveu Fassbinder, corria o ano de 1979, dez anos depois da estreia da primeira e arrebatadora longa-metragem de Schroeter, Eika Katappa,  que vencera o prémio Josef von Sternberg no festival de Manheim (Schroeter começara de facto, em 68, com a realização de várias curtas “underground”, certamente devido à influência que sobre ele exercera o underground nova-iorquino, com o qual contactara num festival de cinema na Bélgica).


Em 1971 filmava A Morte de Maria Malibran, inspirado na mítica mezzo soprano do século XIX. Os seus filmes, com uma predilecção por uma espécie de excesso operático e pelo artifício, que misturavam, de forma heteróclita, a ópera e a música pop, o teatro e o cabaret, o melodrama e a dança contemporânea, a pintura e a literatura, a “alta” e a “baixa” cultura, desafiavam todas as categorizações. Eram alegorias, fábulas, levadas por um impulso romântico, o desejo e a perda, mas também a salvação, numa obra de enorme força e vitalidade, que escolhia os “outsiders”, os estranhos, os estrangeiros. O enorme impacto crítico fê-lo rapidamente ganhar uma série de devotos seguidores no circuito dos festivais.


Werner Schroeter, que Hans Jürgen Syberberg considerava “um dos artistas verdadeiramente revolucionários da nossa época”, realizou quatro dezenas de filmes, entre curtas e longas, documentários e filmes de ficção, nos quais trabalhou com actores que eram praticamente desconhecidos, mas também com actrizes como Bulle Ogier, Carole Bouquet ou Isabelle Huppert. Foi também actor (nomeadamente de Fassbinder, em Berlin, Alexander Platz), e prolífico encenador de teatro e de ópera, na Alemanha e noutros países.


Destacam-se ainda, na sua obra, O Reino de Nápoles (1978) e Palermo ou Wolfsburgo (1980), que resultaram dos seus “anos italianos” e marcaram a mudança para uma estrutura narrativa mais linear (com Palermo conquistou o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 1980, a primeira vez que o prémio de melhor filme do festival foi atribuído a um realizador alemão). Realizaria ainda, entre outros, Malina (1991), uma adaptação com argumento da futura Nobel da Literatura Elfriede Jelinek, do romance epónimo de Ingeborg Bachman, e que teve Isabelle Hupert como protagonista.


Paulo Branco, seu amigo ao longo de mais de três décadas, produziu-lhe 3 filmes, todos eles rodados em Portugal: O REI DAS ROSAS (1986, Prémio da Crítica Internacional e Melhor Filme, no festival de Roterdão), rodado nas zonas de Sintra e do Montijo, filme singularíssimo e um tributo à sua musa desde a primeira hora, Magdalena Montezuma, que morreria pouco depois da rodagem), DEUX/DUAS (2002, Festival de Cannes — Quinzena dos Realizadores), com Huppert, Bulle Ogier, Arielle Dombasle e o actor português Rogério Samora, rodado em Lisboa e na zona de Sintra, e ESTA NOITE, a sua derradeira obra, filmada no Porto, com Pascal Gregory, Eric Caravacca e Bulle, uma adaptação do romance do escritor uruguaio Juan Carlos Onetti, que estreou no festival de Veneza em 2008, onde Werner Schroeter foi distinguido com o Leão de Ouro Especial do Júri, um prémio excepcional do Festival atribuído pela “sua obra desprovida de compromisso e rigorosamente inovadora há 40 anos”.


Esteve por duas vezes no LEFFEST, então ainda Festival de Cinema do Estoril: em 2007 (para além de uma homenagem e da exibição dos seus filmes, foi ali apresentada, pela primeira vez, uma exposição de fotografias suas; ao longo dos anos Schroeter desenvolveu de forma contínua um extenso trabalho fotográfico, que, até àquela data, nunca fora apresentado em público), e em 2008, quando apresentou, em antestreia portuguesa Esta Noite. Nessa altura, deu também uma masterclass, onde afirmou que o cinema tinha que despertar reacções nos espectadores, tinha que provocá-los.

Em relação a este filme, onde filmou o caos que vai tomando conta de Santamaria (uma cidade fictícia, inventada por Onetti, e que Schroeter foi encontrar na atmosfera mágica das madrugadas do Porto), o realizador chamou a atenção para o contraponto: “a vida é muito rica apesar das catástrofes” […] e “somos nós quem pode mudar o mundo!”


Regressamos na próxima semana a Werner Schroeter, e prestamos-lhe tributo, disponibilizando no site da Medeia Filmes, em streaming gratuito, e em simultâneo, entre as 12h do dia 30 de Abril e as 12 horas do dia 3 de Maio, os 3 filmes produzidos por Paulo Branco, distribuídos pela Leopardo Filmes: O REI DAS ROSAS; DEUX/DUAS; ESTA NOITE.


Leopardo Filmes | Medeia Filmes


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